quinta-feira, 1 de maio de 2014

O preço e o valor


Não quero fazer deste texto uma reclamação. Quero colocar as coisas em PERSPECTIVA. E, talvez, incentivar as pessoas a pensarem no valor da arte.

Todo mundo sabe que a indústria da música (do jeito como a conhecíamos) está numa crise tremenda. Graças a internet, youtube e downloads gratuitos (legais ou não), as grandes gravadoras perderam seu poder (que era autoritário tanto para o público quanto para o artista - impondo quem deveria ser ouvido por quem, quando e como). 

Agora nós, pobres mortais "independentes", podemos lançar nossos próprios discos na cara e na coragem. Acho isso lindo, porque dá liberdade pra criar e, apesar de ainda predominarem na mídia certos produtos musicais pré-fabricados, tem muita gente muito boa fazendo muita música boa e divulgando pela internet a fora - e de palco em palco, construindo público.

Todo mundo sabe que vender disco online não dá dinheiro. O que dá dinheiro é fazer show, aprovar projetos em editais e - acreditem - vender o CD físico nos shows. Ele funciona como uma "lembrancinha", um "souvenir". É uma maneira dos fãs mais interessados demonstrarem apoio ao trabalho do artista. Mas, já tem laptop sendo fabricado sem driver de CD. Já tem carro que vem com sistema de som só com mp3. E, na boa, quem aí ainda ouve CD em casa, no aparelho de som? 
Assim como a fita K7 e o vinil, o CD vai desaparecer - ou virar um ítem de colecionador hipster.

Como eu ainda sou parte desta transição entre um modelo passado decadente e um futuro incerto, tenho de tudo: minhas músicas estão no youtube e no soundcloud, meu disco está a venda no Itunes, OneRpm, no streaming do Spotify e tenho também o disco físico. 

Hoje dei uma olhada dos dados de vendas do OneRpm e resolvi fazer um balanço de todas as formas como meu produto está apresentado no mercado... Tive 2 discos vendidos no OneRpm e 300 pessoas ouviram no streaming. Por tudo isso, ganhei maravilhosos R$8,15! Meio triste né? Mas, acompanhe, vai melhorar...

Das 1.000 cópias do disco físico (aquele verdinho, na caixinha de acrílico), vendi umas 700, ainda tenho umas 100 e as outras dei para pessoas importantes como "cartão de visita". No Soundcloud, tem pra lá de 6.000 execuções das minhas músicas... e no youtube, em um só vídeo, tenho 13.000 visualizações - e somando todos os vídeos, mais de 40.000 visualizações.

Não sou nenhum viral bem sucedido mas quando comparo as 40.000 visualizações no Youtube às 300 execuções no streaming, fico pensativa.

O Youtube é o segundo site mais acessado depois do Google. E, hoje em dia, é a principal forma como as pessoas consomem música - porque é fácil, rápido e GRÁTIS. Pro público, é uma maravilha. Pro Youtube também - eles enchem o site de anúncios insuportáveis e fazem a festa. E pro artista? Divulgação. Essa palavra maravilhosa que nos persegue o tempo todo. 

Divulgação é ótimo, é necessário. E para cada estágio da carreira de um artista há momentos em que vale a pena fazer algo de graça em nome da santa divulgação. Mas há limites.

Um álbum é um produto como outro qualquer - mesmo que não seja físico. Ele teve um processo de produção - com custos, recursos humanos, burocracia. E por que ninguém quer pagar por este produto?

Será que você pediria a uma doceira que fizesse brigadeiros para uma festa de 300 convidados por R$8,15? Será que um restaurante faria uma degustação grátis pra 6.000 pessoas, para divulgar seu trabalho? Será que um fisioterapeuta faria  100 massagens de graça para ter mais clientes?

É claro que há de se colocar tudo nas devidas proporções. Não acho que ninguém tenha que fazer seu trabalho de graça - nem a doceira, nem a fisioterapeuta, nem eu!

Porém, mais do que dizer que tudo tem um preço, é importante dizer que tudo tem um valor. E o real valor da arte está se perdendo nessa louca sociedade de consumo, onde ser rápido, grátis e fácil vale mais do que ser bem feito. 

Quanto a mim, o plano é disponibilizar o próximo disco na íntegra para download gratuito - e ver até onde me levará a tal "divulgação".