sábado, 4 de agosto de 2012

Talento, pra mim, é chocolate!

Nos preparativos para o meu primeiro show em São Paulo, estou envolvida também com a burocracia da OMB. Para quem não sabe, para a realização de show as casas mais sérias (como o SESC) pedem uma nota contratual da OMB - visando proteger os direitos dos músicos em receber seu cachet. Isso não é nada que a gente não resolva, mas me incitou a trazer a tona aqui no blog a difícil questão da OMB.

Existe uma discussão muito profunda acerca da existência deste órgão e acho que ela está sendo levada para o lado errado. Os músicos estão lutando para exercer a profissão livremente - isso significa, sem a obrigatoriedade de filiação a Ordem dos Músicos do Brasil. Mas eu vejo duas coisas muito erradas no discurso.

A primeira é a história de que a OMB tem que acabar. As pessoas (principalmente os músicos e juristas envolvidos na discussão) não entendem que a existência da OMB e do Sindicato visam a proteção aos músicos... e se acabarem estes órgãos, seria um retrocesso tremendo em relação as conquistas trabalhistas da regulamentação da profissão de músico. A OMB tem sim é que ser reformulada, totalmente.

Começando pelo exame que é aplicado para a obtenção da carteira. Os critérios para auferir se alguém é músico profissional têm que ser muito mais sérios, nos âmbitos técnico e artístico. Sei que o que delimita um músico profissional de um músico amador é uma linha muito tênue e que tem mais a ver com o dia-a-dia da pessoa do que necessariamente com a sua qualidade de execução musical. Porém, se a prova da OMB aumenta o nível de dificuldade, tenho certeza de que o nível da classe é fortalecido como um todo. O ideal seria que o candidato precisasse, no mínimo, se preparar pra fazer a prova - que não acontece na atual gestão.

Outra questão precária são os benefícios que a OMB deveria oferecer, mas que disponibiliza para os músicos do jeito mais capenga possível. Um exemplo trágico é a assistência médica. A OAB, por exemplo, tem convenios com bons planos de saúde para seus associado, entre outros benefícios. A OMB dá atendimento médico em um dia da semana específico com um médico no Rio de Janeiro. Ou seja, passou mal fora do dia específico do atendimento, azar o seu.

Sei também que por trás das eleições na OMB existem muitas falcatruas, mas eu não estou aqui para fazer acusações. Prefiro me ater aos casos que eu conheço de verdade.

Por fim, o outro lado do discurso que me irrita muito é a questão do talento. Esse papo de que o músico é uma pessoa tocada por Deus e que tem um talento sublime já deveria ter morrido junto com Beethoven, que foi o rei do marketing pessoal e fez o nome em cima dessa história.

É claro que o músico tem que ter aptidão para a arte. Não há dúvidas. Mas o médico também tem que ter um talento especial para curar as pessoas, que vai além do preparo técnico. E assim é em toda profissão. Se você não leva jeito pra coisa, um abraço!

A ministra do STF Ellen Gracie, que é relatora do processo que discute o tal livre exercício da profissão, declarou que “A música é uma arte, é algo sublime, próximo da divindade. Tem-se talento para a música ou não se tem”. E ainda completou dizendo que ela mesma, não tem talento algum.
Mal sabe ela que provavelmente se acha incapaz de fazer música porque não teve educação musical na escola - mas isso é outra discussão mais profunda ainda...

Pra terminar: eu acho esse discurso um saco! Afinal, se estamos tão próximos da divindade assim, porque é que ganhamos tão pouco, tão mal e sem perspectiva nenhuma de futuro?

Se os músicos são semi-deuses nestas condições, o que não faríamos se resolvêssemos ser juízes do supremo...

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