Nesta semana não se fala em outra coisa. A nova música de Valesca Popozuda com a participação de Mr. Catra foi a ultima sensação do Facebook e Youtube.
Apesar de não ser muito chegada à artista (artista?), fiz questão de conhecer a música porque sou uma artista (artista?) preocupada com o que acontece ao meu redor e tenho a convicção de que aprendemos igualmente com o que achamos bom e ruim.
Pois bem, o que eu aprendi com essa música - além de novas formas de usar as palavras da maneira mais explícita possível para descrever o ato sexual - é que eu não entendo nada.
Isso mesmo. Quem se apropria do discurso de Caetano hoje é Valesca Popozuda. Ao ser alvo de críticas por falar palavrões, ela deu uma cartada sensacional nos chamando a todos de burros.
Do alto de suas roupas mínimas e coladas, Valesca Popozuda me faz sentir uma imbecil.
"Vocês não estão entendendo nada!" - imagino ela dizendo. E continua: "Vocês têm coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado!".
Daqui a 30 anos, certamente haverá nas estantes empoeiradas das universidades mais bem conceituadas teses e dissertações que dirão algo parecido com o que direi a seguir.
Iniciemos, portanto, a análise.
1)Valesca Popozuda é a vanguarda. Nelson Rodrigues e seus conteúdos "chocantes" já ficaram ultrapassados.
2) Valesca Popozuda é herdeira da antropofagia.
Diz o Manifesto Antropófago:
"Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.
Diz Valesca Popozuda, 84 anos depois:
"Eu sei que você já é casado, mas me diz o que fazer
Porque quando a p***** tem dona é que vem a vontade de f****"
3)Valesca Popozuda propõe ainda uma revolução estilística na escrita. O sexo é uma temática literário-musical presente na arte desde tempos imemoriais. Mas depois de séculos "enfeitando o pavão", Valesca Popozuda decreta o fim da metáfora. As coisas são o que são e não há porque fingir que são algo diferente disso - inaugurando a corrente ideológica da verdade nua e crua.
Para concluir, deixo vocês com Tom Zé e sua lindíssima análise de "Atoladinha".